Quantos
de nós não aceitam convites que por vezes não sabemos bem o seu significado?
Quantas vezes não nos deparamos com coisas que seguimos sem saber muito bem o
intuito disso? Com Jesus, infelizmente isso pode acontecer também. Não é de
hoje que isso acontece.
Os
discípulos seguiam a Cristo e tinham, ao que parece, esperança de reinar com
ele (Mt 20.21). Não temos como ter
certeza das intenções dos apóstolos, mas sabemos que apenas após a ascensão de
Jesus e a vinda do Espírito Santo é que eles tiveram uma compreensão total do
Reino que Jesus anunciou.
Então
é comum ver os apóstolos sempre com Jesus por onde ele ia, ao menos nos relatos
bíblicos. Desta vez estavam próximos a uma cidade chamada Cesareia de Felipe,
cidade que tem esse nome para se diferenciar da Cesareia da costa do
mediterrâneo. O governador da província, Felipe, trocou o nome para diferenciar
do território que o seu irmão, Herodes de Antipas, governava que também era Cesareia.
Diz-se
que Cesareia de Felipe era uma cidade com muitos templos dedicados a diversos
deuses, inclusive um templo dedicado ainda a Baal. É curioso que exista tal
território em Israel. Sabendo disso, podemos imaginar que o assunto principal
na cidade era religião. Com certeza haviam chegado boatos até aquela cidade
sobre Jesus, que havia multiplicado pães e peixes para uma multidão, haviam
chegado boatos sobre João Batista, sobre os antigos profetas... é de se
imaginar que o ambiente foi propício para a pergunta de Jesus sobre quem os
homens dizem que ele é.
A
questão maior dessa perícope é Como
Seguir a Jesus.
1. Entender
quem é Jesus (v.29-31)
Para poder seguir Jesus, devemos
primeiro saber quem ele é. Não se segue algo que não se conhece ao menos que
seja um louco.
1.1 Ele
é O Cristo
Temos
que entender aqui que Pedro (em nome de todos os apóstolos) declara isso,
segundo o Espírito o revela (Mt 16.17).
Mais adiante, a mensagem principal dos apóstolos é a que Jesus é o Cristo (At 2.36). Porém, há dúvidas quanto a
compreensão sobre o messianismo de Jesus por parte dos apóstolos. Uma vez que a
expectativa messiânica apontava para um rei libertador que levaria Israel a
glória como no tempo de Davi e tiraria toda a opressão de domínio estrangeiro
(no caso, o romano). Jesus, por sua vez, nunca se mostrou um rebelde ou
revolucionário, portanto, é claro que se não fosse pelo Espírito, Pedro jamais
teria pensado que Jesus fosse realmente o Cristo.
Alguns
podem inclusive achar essa ideia liberal, pois João relata logo no seu primeiro
capítulo que alguns passaram a seguir a Jesus por justamente o considerarem o
Cristo (Jo 1.41). Mas vemos que
quando Jesus realmente apresenta a verdadeira tarefa do Messias, Pedro o
repreende. (Ilustração – falou de morte, “bate na madeira”).
1.2 Veio
cumprir as Escrituras
Jesus
apresenta então, segundo as Escrituras que o papel do Messias é de sofrimento e
entrega e rejeição. (Lc 24.26; At 3.18).
Mas ao que tudo indica, havia um certo interesse por seguir a Jesus pelo que
ele poderia oferecer, no caso de estabelecer um reino de glória terreno
(segundo a expectativa messiânica). Aplicação – E quantas vezes nós
também não criamos expectativas sobre as coisas ou mesmo sobre Jesus, julgando
que ele é alguém que pode nos trazer benefícios, os quais são para nosso
deleito diário e paz? Temos que tomar cuidado com o que projetamos das nossas
expectativas, porque pode ser que nem tudo é como dizem. Nossas expectativas
podem nos frustrar ou nos fazer agir mal frente a uma situação. Pode ser que
nós tenhamos uma expectativa de ministério e se ela não for alcançada, temos
que ter cuidado para não achar que ela era a única forma que Deus poderia te
usar.
2. Compreender
o que Jesus fez (v.31)
Temos que entender o ideal de Jesus
para podermos segui-lo com convicção. Não se pode seguir algo que não se
compreend tue ou não se concorda.
2.1 Morreu
na cruz (humilhado)
Para
os leitores originais do evangelho, provavelmente romanos, a palavra cruz (que
aparece mais adiante no v.34) tinha um impacto muito forte, por ser uma forma
de execução impiedosa e cruel. Sabemos que um cidadão romano jamais poderia ser
crucificado nem poderia acontecer dentro das cidades, de tal brutalidade que
era essa forma de morte. Falar em cruz era falar sobre vergonha, falar sobre a
condenação do pior tipo de gente, que eles provavelmente atribuiriam como uma
morte merecida. Jesus se entregou para que os pecados pudessem ser perdoados
por Deus. Jesus foi para a cruz para que de alguma forma a ira de Deus fosse
cessada, e posta sobre o único que jamais pecou e que se fez maldito (2Co 5.19, 21) por aqueles que aceitam o
seu sacrifício.
Além
de sofrer uma morte vergonhosa, ainda foi espancado (Jo 19.1) e rejeitado por aqueles que usufruíram de seus sinais e
milagres enquanto ele estava com o povo.
Se
não compreendermos Jesus como aquele morreu para trazer a reconciliação com
Deus, jamais poderemos segui-lo conscientemente.
2.2 Negou-se
a si (foi rejeitado)
Um
ser divino que abre mão da sua glória só pode ser o grau mais elevado de
abnegação. Jesus mesmo disse aos discípulos que os enviava assim como o Pai o
havia enviado, isto é, vão aqueles que abrirem mão da sua vida, do seu
conforto, a semelhança de Jesus, que deixou seu trono de glória para cumprir a
missão de Deus. Ele não se deixou levar pela rejeição por parte dos líderes
religiosos, pois não teve a pretensão de assumir o posto deles. Ele se negou ao
ponto de aceitar a forma de homem, com limitações e dificuldades para cumprir o
seu propósito de dar a vida por muitos.
2.3 Ressuscitou
O
último ato que precisamos saber de Jesus é que ele, após ser rejeitado e morto,
foi ressuscitado por Deus. A sua ressureição nos traz esperança de vida eterna
e a certeza de que a morte foi vencida. Sabemos que mediante a ressurreição,
Jesus tem todo o poder em suas mãos.
Ilustração -
Lucas 24 – caminho de Emaús – como a postura dos discípulos mudou após
saber que Jesus ressuscitou.
Aplicação
– Se não
tivermos a consciência desses atos de Jesus, não poderemos segui-lo com
convicção. É necessário entender o que Jesus fez para poder segui-lo. Jesus
continua seu discurso aproveitando para ensinar que não só ele sofrerá, mas
aqueles que quiserem segui-lo também, pois ele nos chama para sermos
parecidos com ele.
3. Aceitar
o chamado (convite) que Jesus faz (v.34-37)
Segue o chamado para aqueles que
querem seguir o Cristo.
3.1 Humilhar-se
Não
podemos desvincular a obra de Jesus do chamado que ele nos faz. Um chamado
paradoxal, com certeza, porém muito assertivo em seu significado.
Falando
em cruz, Jesus está convidando para assim como ele se humilhou, nós também nos
humilharmos, e sem ter vergonha.
É
certo que Jesus está dizendo para aqueles que querem segui-lo, que antes devem
se humilhar, em comparação a sua futura morte. Nessa parte do texto, Jesus
aproveita para explicar a sua missão e estender o convite a quem quer segui-lo.
Se por um lado, para Pedro, Jesus não poderia sofrer, por outro, Jesus fala que
ele deve sofrer junto, nós devemos sofrer junto com ele. Se para reinar com
Jesus, eles estavam dispostos, como seria no sofrimento e na humilhação?
Devemos, portanto, como Jesus, não exigir nossos “direitos”, colocando em
prática, por exemplo o “dar a outra face”, para que possamos ser como Jesus. O
convite da cruz é um convite a humilhação.
3.2 Negar-se
Ilustração - Certa vez viu-se um anuncio de
emprego 24h (mãe) deve estar atento para qualquer imprevisto, qualquer hora do
dia, deve cozinhar, ter disposição para fazer a mesma coisa diversas vezes,
hora de sono incerta, sem remuneração financeira. – Negar a vida para construir
outra.
Tal
qual Jesus negou a sua natureza divina, devemos também negar nosso ego, nosso
bem-estar em prol dos nossos irmãos, principalmente de fé, exercendo o serviço
cristão uns para com os outros e o amor, que é mandamento de Jesus para nós.
3.3 Morrer
para si (perder a vida)
Morrer
para viver talvez seja a afirmação mais paradoxal de toda a Bíblia. Como é
difícil abrir mão dos sonhos, dos desejos, do caminho que leva a segurança...
quantas vezes não ficamos em dúvida se realmente podemos confiar em Deus
entregando completamente a vida a ele? Aplicação - Mais do que os outros,
eu diria, nós, alunos de Teologia, sentimos isso na pele. Talvez alguém já
tenha ouvido algo parecido: “você é tão
inteligente, tão capaz, deveria fazer alguma outra faculdade, não só teologia”
eu digo, que atitudes como essa levam ao estado que as coisas estão hoje. Falta
de exclusividade e dedicação integral, deixando as igrejas fracas por haver o
medo de perder a vida
.
4. Confiar
nas palavras de Jesus (v.38-9.1)
Seguir a Jesus não é uma mera filosofia,
é ter esperança nas coisas vindouras. Se nossa esperança é para apenas as
coisas desta vida, somos dignos de compaixão (1Co 15.19).
4.1 Sem
se envergonhar das palavras de Jesus
Confiar
nas palavras de Jesus significa manter-se firme em meio a diversidade de
opinião e conduta. Confiar que a palavra de Jesus é melhor que o nosso
entendimento é um bom começo para começarmos a não ter vergonha. Se nós achamos
que somos autônomos e fazemos o que bem nos aprouver, estamos aos poucos
negando as palavras de Jesus e, consequentemente nos envergonhando de viver o
evangelho, que é pela fé, mas que exige certas atitudes. Ilustração - Jesus mesmo
disse que o que adianta apenas amar ao amigo, se até mesmo os incrédulos o
fazem (Mt 5.46).
Aplicação - Para seguir a Jesus é preciso
permanecer firme nas suas palavras, dando bom testemunho cristão para que não
só não tenhamos vergonha do evangelho, mas para que também não o envergonhemos.
Os
discípulos bravamente permaneceram nas palavras de Jesus, quando em Ilustração
- Atos, não pedem o alivio da perseguição, mas sim coragem para permanecer
pregando a palavra que eles acreditavam e não se envergonhavam (At 4.29), que é a interpretação para o
último versículo da perícope (9.1).
4.2 Declarar
que Jesus é o Cristo
Ao
declarar que Jesus é o Cristo que deveria vir, estamos entendendo que ele é
aquele que traz reconciliação e paz com Deus. Declaramos que ele sofreu sim,
diferentemente da expectativa judaica e que isso foi necessário para cessar a
ira de Deus pelo pecado. Se confiarmos que Jesus é o Cristo, estamos confiando
em suas palavras e assim, seguindo-o.
Conclusão
Quando
Jesus vê a oportunidade de instruir os discípulos na verdade das Escrituras,
ele não perde tempo, usando o contexto do lugar em que estavam para ensinar uma
valorosa lição que serve para nós também. Por vezes estamos acostumados a ler
os versículos 34-37, no entanto eles estão vinculados a um ensino anterior de
Jesus.
Ao
quebrar a ideia de que o Messias seria apenas glorificado e que teria um reino
majestoso, ele aproveita para dizer que aqueles que quiserem seguir o
verdadeiro Messias, precisam fazer igual a ele, primeiro na humilhação, que
nunca foi e nem será algo que o ser humano busca. Em segundo lugar, ele exige a
autonegação, deixar de lado nosso ego e nossa autoconfiança para participar do
plano maior de Deus e por fim, nos convida para perder a nossa vida, por amor
ao evangelho, por amor a Deus, que nem a vida do próprio filho poupou.
O
texto nos ensina a seguir a Jesus e precisamos tomar esses passos em direção ao
conhecimento do nosso Senhor e Mestre, para que possamos ser semelhantes a ele
e por fim, sermos aprovados por Deus no último dia (1Ts 3.13).
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