Não, não é fácil conviver com criança ou adolescente mal-humorado. Trazemos algumas dicas de como contornar essa situação
"Até os seus 10 anos, a criança ainda não é completamente capaz de nomear o que sente e quem ou o quê causa isso, da mesma maneira que um adulto. Por conta de sua imaturidade psíquica, consegue fazê-lo apenas com os sentimentos mais básicos, como alegria, tristeza e raiva. O comportamento mal-humorado acontece, na maioria das vezes, por causa de um desejo frustrado", explica Thaíz Muñoz, pedagoga especializada em psicopedagogia clínica e institucional do Espaço Terapêutico Entre.
Fases de oscilação de humor
Segundo Thaíz, há naturalmente maior incidência de oscilações do humor durante a infância. Dentro do esperado para cada idade, a turma mirim pode mudar seu estado de humor se as coisas não saírem como desejado, caso estejam cansadas, com fome ou quando têm um desejo frustrado.
A bar tender Gabriela Loibl entende bem a situação. “A Francisca sempre foi uma criança bem mal-humorada, introvertida, sem muita vontade de interagir com outras crianças e até hoje, com 14 anos, reluta em ter vontade de ir à escola. Quando era menor, eu insistia para que ela fizesse atividades diversas, exercícios físicos, mas nada parecia satisfazê-la”, lembra-se a mãe.
Gabriela conta que segue sendo difícil convencer a filha a fazer algo diferente. “Mas já senti que a introversão é mais um aspecto forte da personalidade dela mesmo porque, muitas das vezes que consigo levá-la comigo para algum lugar diferente, vejo que ela acaba gostando e se divertindo. Com o tempo, aprendemos a lidar e aceitar o jeito de ser dos nossos filhos”, avalia.
Por isso – e até mesmo para não se preocupar desnecessariamente –, fique de olho nos comportamentos mais comuns de cada fase da infância:
- Por volta dos 2 anos: "Nessa fase, muitas crianças manifestam rebeldia através das conhecidas birras. Qualquer 'não' é motivo de frustração para elas, que se sentem levadas a expressar sua não aceitação atirando-se ao chão, com gritos, choros etc", explica a psicopedagoga.
- De 5 e 7 anos: é um período caracterizado por uma mudança de comportamento. Aqui, existem alterações físicas, psíquicas e sociais. O filho experimenta barreiras rumo ao mundo adulto, o que faz com que seu humor seja mais instável.
- De 7 a 8 anos: "É um período em que eles já expressam com muito mais clareza o que querem, o que pensam e, além disso, o que sentem. Questionarão e repudiarão o que não gostam", diz a especialista.
- Por volta 8 ou 9 anos: é o momento da rebeldia. Nessa idade, as crianças esperam respostas e que todos seus desejos sejam atendidos na hora e essa postura pode durar até o final da puberdade.
- A partir dos 10 anos: "A criança que vem se desenvolvendo da maneira esperada passará a dar sentido ao que sente, já atribuindo nomes que diferenciam um sentimento de outro, e já é capaz de se colocar no lugar do outro e antecipar situações", explica Thaíz.
Quando é preciso se preocupar
Acenda o sinal de alerta se a criança se mostrar frequentemente mal-humorada sem motivo aparente e independentemente do que acontece ao seu redor, pois ela pode estar passando por dificuldades emocionais ou orgânicas.
"Os pais devem preocupar-se caso o filho chegue aos 10 anos e ainda não seja capaz de dar nome àquilo que está sentindo e suas respostas às situações do dia a dia forem sempre apáticas ou negativas. Daí, sim, podemos dizer que está privado de seus sentidos, incapaz psiquicamente de sentir, indicando a presença de uma patologia", observa Thaíz.
É importante que a família fique atenta a indícios fora do comum, tais como:
- isolamento social,
- pouca resposta a estímulos verbais e visuais,
- mudanças bruscas de comportamento,
- abandono de tarefas pela metade,
- recusa de alimentos ou compulsão,
- agressividade,
- sono inconstante,
- baixo rendimento escolar,
- inquietação motora,
- choro sem motivo e até mesmo sentimentos de depressão,
- se está sempre triste, infeliz,
- se está se sentindo culpada.
Uma grande aliada na detecção desses sintomas é a escola. Por isso, mantenha um bom diálogo com os educadores do seu filho. Uma avaliação mais específica deverá ser realizada a partir de uma equipe multidisciplinar com psicólogo, psicopedagogo e psiquiatra que, em conjunto, poderão chegar a um diagnóstico global.
6 formas práticas de ajudar seu filho
- Tenha paciência. Não deixe que o mau humor se estenda. Fale com ele, dê mimos, demonstre que não tem culpa do que tem acontecido e que ele pode contar com você. É preciso ter calma para educar, argumentar e compreender o que está ocorrendo.
- Ajude a traduzir emoções. Encare os momentos de mau humor como ocasiões para educar e encontrar opções e superar suas frustrações. Cabe aos pais a tarefa de ajudar seus filhos a aprenderem a conhecer e controlar suas emoções, e mostrá-los que os demais também passam pela mesma situação.
- Seja compassiva. Acredite: não ajuda em nada dizer “Melhore essa cara”, “Ponha um sorriso no rosto” ou, então, “Pare de se sentir tão infeliz”. Na verdade, a estratégia oposta de aceitar e dar nome aos sentimentos do filho tem um resultado muito melhor no sentido de ajudar as crianças a melhorarem seu humor a longo prazo. A pedagoga recomenda que sejam utilizadas frases do tipo: "Você não está contente com isso” ou “Você não gosta disso” ou “Você está aborrecido” quando a criança está claramente infeliz. Ela se sentirá reconhecida e acolhida.
- Não dê tudo o que seu filho quer. Prover tudo o que a criança deseja em bens materiais não a torna feliz, nem é um boa atitude só para não descontentá-la. Comporte-se normalmente, recusando-se a ceder a intensas exigências.
- Compreensão nunca é demais. Entenda que seu filho, na maioria das vezes, não consegue evitar o mau humor, e está sofrendo por sentir-se assim, chegando a pensar que seus pais o odeiam por estar agindo dessa forma. É preciso enxergar que ele pode estar sendo vítima de uma sensação que não pode controlar e necessita de ajuda.
- Estimule atividades e brincadeiras. Proponha situações que deem prazer e esteja presente nesses momentos. Sua presença é o que seu filho mais necessita. Pode ser um esforço para a família em algumas situações, mas é muito importante que ele se sinta amado, acolhido e cuidado.
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