Já faz tempo que o WhatsApp é mais do que apenas um ícone verde perdido em meio aos apps na tela do smartphone.
Com mais de 100 milhões de usuários no Brasil, o serviço se tornou indispensável para quem quer se manter em contato com a família, amigos e até mesmo fazer negócios.
Quando o aplicativo foi bloqueado pela segunda vez no País, muita gente entrou em pânico por não poder enviar e receber mensagens.
Para algumas pessoas, porém, a aparente irritação escondia um problema ainda maior: o vício no WhatsApp.
“As pessoas não estão conscientes de que estão se tornando viciadas no WhatsApp”, afirma a psicóloga do programa de dependências tecnológicas do Hospital das Clínicas, Dora Goés.
“O serviço é algo muito novo na vida delas e na sociedade, então é difícil ter noção disso tão rapidamente.” Até o momento, ainda não há um grande número de “viciados” em WhatsApp diagnosticados no Brasil.
Apesar disso, segundo apurou o Estado, três dos principais centros de pesquisa em dependência tecnológica do País já atenderam pelo menos algum caso relacionado diretamente ao aplicativo de mensagens instantâneas.
O perfil das pessoas dependentes do app de conversas, segundo os psicólogos, é de jovens de 18 a 30 anos. Eles estão em época de estudos ou no ápice de suas carreiras profissionais e o vício no aplicativo pode comprometer seu desempenho.
“As pessoas substituem e perdem coisas da rotina para ficar usando o app”, afirma a psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ana Luiza Mano. “Eles deixam de dormir, faltam na escola e no trabalho.”
WhatsApp: "As pessoas substituem e perdem coisas da rotina para ficar usando o app", afirma a psicóloga (Dado Ruvic / Reuters) |
Vazio
O WhatsApp é o mais novo serviço a entrar para o rol dos que podem gerar dependência. O vício em games é um dos mais estudados e antigos e faz com que os usuários joguem sem parar, deixando de lado atividades sociais.
Há casos de pessoas que morreram por não conseguir sair da frente da TV. O vício nas redes sociais Instagram e Facebook também tem sido amplamente estudado.
“O Facebook te pega no enredo do voyeurismo e da exibição porque cada um mostra a imagem de si projetada na rede que não necessariamente corresponde ao sentimento verdadeiro dela”, afirma a fundadora da agência de pesquisa em tendências Über Trends, Suzana Cohen.
“O Instagram é ainda mais egocêntrico.” Os estudos têm revelado que, por trás do vício em tecnologia estão fobias e transtornos psicológicos.
É o caso do “fomo” (medo de estar perdendo algo, em inglês) e da nomofobia (junção da expressão “no mobile” e fobia, ou seja, medo de ficar sem celular).
A dependência da tecnologia quase sempre também está ligada a outros distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e compulsão. “
Esses problemas acabam gerando um vazio e as pessoas tentam preencher esse buraco de maneira exagerada”, diz Ana Luiza.
Não são poucas as pessoas afetadas pelo vício em tecnologias. De acordo com estudo realizado em 2015 pela Flurry, consultoria da empresa de tecnologia Yahoo, 280 milhões de pessoas no mundo são viciadas em aplicativos para celular.
A situação é mais grave entre jovens: estudo da Universidade Federal de São Paulo, realizado em 2014 com 274 estudantes entre 13 e 17 anos, mostrou que 68% deles eram dependentes moderados de tecnologia, sendo que 20% eram dependentes graves. Tratamento.
Como muita gente ainda não está ciente de que usa de maneira exagerada o WhatsApp, o número de pessoas que procuram tratamento ainda é mínimo, de acordo com os especialistas.
Entre os principais sintomas do vício no app está a necessidade de checar continuamente as notificações e de responder imediatamente as mensagens.
Há diversos tratamentos para a dependência digital: desde um simples “detox” digital (veja mais no box) ou até mesmo terapia em grupo e com aconselhamento médico.
No Hospital das Clínicas, por exemplo, o usuário passa por uma triagem para diagnóstico da dependência em tecnologia. Em caso afirmativo, ele inicia um programa de 18 semanas, no qual psicólogos avaliam a origem e nível do vício.
De acordo com a avaliação, a pessoa pode ser encaminhada para um psiquiatra para tratamento ou, simplesmente, continua no grupo para receber uma educação digital.
“Grande parte da população brasileira usa a tecnologia de forma abusiva”, afirma a psicóloga e fundadora do Instituto Delete, Anna King.
Fonte: http://exame.abril.com.br/
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